Me lembro aquela vez que, com meu filho recém nascido no colo, olhei no fundo dos meus olhos no espelho do banheiro do quarto do hospital. Não me reconheci, claro.
Tive medo de tudo que estava por vir, medo do que seria preciso deixar para trás, sabia que mudanças iriam acontecer. É que mudanças, por mais desejadas que sejam, são como uma nova colega de quarto: não sabemos nada sobre ela, mas na convivência seremos obrigadas a descobrir.
Em tempos de ciclos se encerrando, transições e mudanças na vida pessoal, amorosa, profissional, um novo corpo se forma enquanto nos movemos em uma nova direção. Até o cabelo cortamos marcando fases. Mas esse passo nesse novo caminho não nos impede de olhar para trás. Carregamos quem éramos precisando deixar surgir quem ainda vamos ser.
Penso que para as mudanças se instalarem precisa de espaço vazio. Se não cabe, não tem como colocar algo novo ali. E nesse vazio esquisito, nem lá nem cá, é quando não nos reconhecemos mais. Não somos quem éramos, mas ainda não somos quem estamos nos tornando.
Nesse processo a alegria pode conviver com a tristeza, a certeza surge num dia e desaparece no outro, mostrando a dúvida e o medo escondidos num cantinho nosso. Acostumadas com outra versão, estranhamos as novidades nascendo em nós. Mas é preciso abraçá-las, receber cada novidade como se fosse um convidado chegando. “Senta, vamos tomar um café.”
Naquela noite em que meu filho nasceu, fui dormir apavorada. As mudanças vivo até hoje, quando deixo de ser mãe de uma criança para ser mãe de um adolescente. Continuo olhando no fundo dos meus olhos na imagem que vejo no espelho. Continuo e continuo porque é de partidas e chegadas de mim mesma que a vida é feita.
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Quando não me reconheço mais
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